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Crônica das Letras

As palavras, preguiçosas e sonolentas, arrastam-se pela folha procurando um alento em algum parágrafo sem sentido. Os sentimentos militando com a razão gritam ordens dissonantes aos pontos e vírgulas para se organizarem. A exclamação por falta de interrogações( que parece-me que estão em greve, mas em vez de afirmar só questionam) contorce-se quase formando um "s". E nestas dificuldades, pouco notadas pelo escritor, o texto vai se formando. Estes esforçados trabalhadores que só são valorizados em grupos e só aplaudidos quando escritos por um grande autor, olham-nos boquiabertos o mal uso deles mesmos. Ah, se por um astuto milagre eles vida ganhassem, qual o conteúdo tão fatídico ou deslumbrante eles por razão de si formariam? Talvez um canto esquecido, de suas naturezas ancestrais, clamando por uma liberdade roubada pela necessidade de comunicação humana. Ou um ode aos grandes, que guiados por um instinto desconhecido, souberam dar forma a beleza mais pura da escrita. Pode-

Emersum

Deixe-me escrever sem pensamentos profundos, as maiores verdades são ditas ao acaso, naqueles raros momentos em que razão e emoção são uma. Vários pensamentos surgem em minha mente. A beleza de um filme que se torna uma idéia viva, uma alegria tão plena, mas que dura apenas algumas horas; o vislumbre das respostas das tantas incertezas. Por anos fundei muitas atitudes numa afirmação, a única afirmação do tipo, aquela frase adolescente que deveria se apagar com o tempo, mas que para mim é chama viva e constante. Por tantas vezes tentei esconde-la, mas como fugir de seu calor, ou não vislumbrar sua luz em meia a escuridão da solidão? Achei abrigo nos poemas, nos contos, nos textos, no romantismo de Alencar, na racionalidade de Dostoyevisk, na profundidade de Dante, nos pensamentos de sócrates e na sabedoria de Salomão. Todos estes fiéis companheiros das madrugadas, dos dias tristes, que juntos formam a escrita que leem. Amei e amo uma pessoa, diga amor na mais profunda forma, aquelas que

Textos de Aeroporto

Lembraram-me que tenho um Blog... "As horas passam nesta viagem tão cheia de esperanças e expectativas, uma música de amor soa aos meus ouvidos, e sua imagem me consome e me delicia. Seus cabelos castanhos criando sombras em sua tez acetinada, seus olhos límpidos tão puros que apenas ao contemplá-los qualquer paixão voluptuosa rende-se em virtuoso amor. Seu sorriso exuberante alumiando a mais profunda escuridão que me assombra. Como não amá-la? Em frente de inefável perfeição o mais covarde cavaleiro rugiria de bravura com um leão; sujeitaria as ilusões do mundo, colocava aos seus pés o mais terrível medo; viajaria milhas, transporia montanhas, lutaria contra si." "Ergo-me acima das nuvens Queimo minhas asas ao som de tua voz E caio em amores perpétuos Neste sentimento divino Numa queda até ti" "Por que já provaste dos lábios desta mulher e não sabes se é dor ou delícia. São lavas embebidas em mel, queimam-te e te corrompem. Seus dentes de perola te devoram col

O Chafariz

Era uma tarde quente e úmida, a garoa periódica acabara de terminar. Podia-se sentir o perfume das hortênsias e jasmins pela janela do segundo andar. Sentado em uma cadeira havia um jovem de pele morena, cabelo liso molhado sobre a testa, seus olhos eram de um castanho sólido. Ele olhava para o horizonte com uma expressão séria e com olhos sonhadores. Sua mão repousava sobre um pequeno livreto, de couro preto, onde havia uma inscrição que parecia de próprio punho, dizia: “Christine, Preciso dizer-te algo, e isto supera a mim. Imaginei mil palavras, busquei mil versos de grandes poetas pra retratar o imensurável. O sentimento que tenho por ti não consigo expressar, buscaria as estrelas para colocar como enfeites em teus cabelos, subirias ao céu e pegaria o arco-íris para dar-te como coroa. Es a bela que a habita em meu peito. Es a princesa que alegra meus sonhos. Es a” O jovem, que se chama August, como que acordando de um sonho, olhou para o livreto ponderou um pouco, até q

Reflexo

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O lago era gélido e negro. Haveria alguma vida naquele lugar? Minha dor pulsava. “É culpa minha, os matei! Lara! Paulo!”. Deixei-me cair à beira das águas, engolia uma saliva grossa tentando manter meu terror preso no peito. Só queria que tudo terminasse, que não existisse mais fôlego nos meus pulmões. Tentei levantar, mas era em vão, as minhas forças se esvaíram sugadas pelo medo que me tomava. Fiquei de bruços, arrastando-me lentamente para perto do lago. “Esse lago será meu fim! Irei para as suas profundezas! Minha dor finalmente acabará!”. Em toda minha vida andei olhando para cima, no fim me arrasto na lama. Não foi a morte que me esperava na água, era um mostro. Um reflexo negro de uma pessoa sorria para mim. -Achas que tua dor vai terminar tão fácil? – disse-me o monstro por entre um sorriso macabro. Não respondi, estava paralisado. -RESPONDA! VERME! - Que... Quem é você?- disse em pânico. -Ha Ha ha! Quem sou eu? Você irá descobrir!- sua risada era grotesca, como gritos de horro

Sim

“Sim”. Às vezes pequenas palavras são o limiar que precede grandes acontecimentos. Como encontrar a mulher que pode mudar nossas vidas, dar alegrias e sentimentos tão vivos que até então nos eram desconhecidos. “Sim”. Foi a resposta que dei ao convite de sair naquela noite. Clube de salsa, o lugar mais improvável para me encontrar, meu conhecimento de dança era limitado a dois pra cá dois pra lá de uma valsa. Há no homem uma sensação parecida com um sexto sentido, quando algo vai acontecer nos sentimos diferentes, como uma força nos puxasse a um destino impossível de escapar, e temos total conhecimento dessa força. Às vezes é um nervosismo repentino ou a preocupação com algo que nos é desconhecido. Assim que me senti ao entrar naquele clube, sabia que o meu destino me puxava pra lá. O ar era um pouco pesado, aquela mistura de perfumes e suor dos que dançavam. Pessoas rodavam na minha frente em movimentos uniformes e rápidos. Aquilo era um pesadelo para um “pé de chumbo” como eu. Fui se

Fleurs de la Rivière

Para aqueles que vivem na escuridão, a beleza nada importa. Vivemos de palavras, nossos corações balançam com um perfume, perfume de mulher. Quando perdi a luz dos olhos, meu mundo desabou. Afundei-me em minhas próprias sofreguidões, meu coração enxergava menos que meus olhos. Minha rotina se limitava ao mesmo café de sempre, na rua “fleurs de la rivière”, e o restaurante na esquina dessa. Todas as manhãs meu café preto e puro me saudava, aquele aroma penetrante que me fazia esquecer os que estavam ao meu redor. Foi numa manhã que senti seu perfume a primeira vez, não era forte, mas chamativo e pulsante, como se penetrasse a minha alma chamando-me para fora do meu poço de escuridão, seu perfume. Quando não temos algum sentido, ou outros se afloram, sabia que a pessoa que tinha aquele tão inebriante perfume havia sentado na minha frente. Há oportunidades que nunca voltarão em nossas vidas, podemos perder futuros amigos por um sorriso, e amores por palavras simples como “olá”. Não tinha