Reflexo
O lago era gélido e negro. Haveria alguma vida naquele lugar? Minha dor pulsava. “É culpa minha, os matei! Lara! Paulo!”. Deixei-me cair à beira das águas, engolia uma saliva grossa tentando manter meu terror preso no peito. Só queria que tudo terminasse, que não existisse mais fôlego nos meus pulmões.
Tentei levantar, mas era em vão, as minhas forças se esvaíram sugadas pelo medo que me tomava. Fiquei de bruços, arrastando-me lentamente para perto do lago. “Esse lago será meu fim! Irei para as suas profundezas! Minha dor finalmente acabará!”. Em toda minha vida andei olhando para cima, no fim me arrasto na lama.
Não foi a morte que me esperava na água, era um mostro. Um reflexo negro de uma pessoa sorria para mim.
-Achas que tua dor vai terminar tão fácil? – disse-me o monstro por entre um sorriso macabro.
Não respondi, estava paralisado.
-RESPONDA! VERME!
- Que... Quem é você?- disse em pânico.
-Ha Ha ha! Quem sou eu? Você irá descobrir!- sua risada era grotesca, como gritos de horror.
-O que quer comigo? DEIXE-ME EM PAZ! Só quero morrer.
-CALADO! VERME! Você acha que vai se libertar da punição do seu pecado tão fácil? Não. Sua morte não vai ser rápida. Vou matar cada prazer e lembrança boa de sua vida. Só sobrará o terror.
-Você não pode tirar nada de mim, já perdi tudo! Só há dor!
-CALADO! Você ainda não sabe o que é dor!
A água se agitou formando círculos concêntricos, uma imagem foi ficando nítida. Era o casamento do meu melhor amigo Paulo com Lara. Eu estava como um dos padrinhos, vendo ela andar em direção onde estávamos. A música entoando. Como estava linda, só desejava que ela fosse minha. Não de Paulo, minha.
-É o dia mais feliz da minha vida. - Disse Paulo.
-Essa felicidade vai durar toda a sua vida!- Lhe disse sorrindo.
A visão parou no meu sorriso, e Lara vindo em nossa direção.
-VERME! Desejou a mulher do seu melhor amigo! O enganou no altar! Há há há! Um homem tão certo enganou a quem o amava! Parabéns! Há há há! – disse o monstro, entre risadas.
-Me deixe! Eu não quero ver nada.
Tentei me afastar do lago, não pude.Era como se uma força me prendesse.
-Você é meu agora. Não tente lutar. Ainda não viu a agonia e a dor.
A água se agitou novamente. Mostrava o aeroporto, no dia em que Paulo viajou para o Japão por três meses.
-Cuide dela por mim! Eu a amo muito – disse-me Paulo, sorrindo para a Lara que estava em seus braços.
-Guardarei com a minha própria vida, meu amigo. Não há lugar mais seguro que ao meu lado. Sorte no Japão.- disse apertando a sua mão.
“Três meses a sós com a Lara! Ela será minha, com certeza”. Lembro-me de ter pensado naquela hora.
A visão parou.
-Estou animado! Tanta maldade num homem! Há há há! Mentiras e mais mentiras! Há há há! Aproveitou da amizade de Paulo para conquistar sua amada esposa!- disse-me o monstro.
- Eu sei de minha culpa. Sei que não há perdão. Vá embora!
-NÃO! O farei lembrar-se de cada pecado! Da dor que causou!
A água se movimentou. Mostrava Lara e eu no carro, dois meses depois.
-Vai ser bom pra você ficar um pouco na casa do lago. Não se preocupe, de lá ligamos para o Paulo. Você já deixou um recado em casa. –disse para Lara.
-Não sei. Queria esperar por ele em casa.
-Não se preocupe. Só descanse.
A imagem no lago tremulou, mostrando o interior da casa. A lareira estava acesa. Lara estava deitada no sofá de olhos cerrados.
-Que tal um vinho? Vamos brindar essa linda vista e o calor da lareira.- disse trazendo a garrafa e dois copos.
-Não posso beber! Fico atordoada rápido!
-Vamos! Não fique assim!
-Tá bom.
A imagem foi acelerando. Uma, duas, três garrafas de vinho. Via nós sorrindo e se abraçando, num estupor alcoólico.
-Sempre amei você, Lara.
-Deixe de brincadeiras!-ela me disse sorrindo.
A tomei pelo braço pra que ficasse mais perto de mim.
-É verdade. Sempre te amei.
-Não, pare com isso. Eu amo o Paulo.
-Seja minha, só dessa vez! Ele não vai saber.
-Não. Está bom por hoje. Vou para o quarto.
A ira me tomou pela rejeição.
-Você será minha!
O que havia de humano em mim naquela hora sumiu. Rasguei suas roupas uma por uma. Ela gritava em desespero.Eu a pegava pelo pescoço.
-Você será minha! MINHA!
Seus unhas cravavam na minha pele, não sentia nada. Apenas segurava seu pescoço mais forte tentando fazê-la calar. E com o tempo não ouvi mais nada. Foi quando Paulo abriu a porta.
-Surpresa. Cheguei...
Seu rosto de pavor me atordou.
-Está bom. Não quero ver mais nada! Já chega, por favor! Chega!- disse ao monstro.
-CALADO! E veja a dor que você causou!
A imagem continuou. Paulo se jogou com fúria em cima de mim. Lara estava morta, semi-nua nos meus braços. Nós brigamos, empurrando um ao outro. Ele era mais forte, me jogou perto da lareira e foi em direção a Lara. Cego de raiva peguei o atiçador e o golpeei na cabeça.
O sangue corava o tapete, Paulo e Lara, um ao lado do outro. Mortos.
-JÁ CHEGA! POR FAVOR! Chega!- disse em lágrimas.
-Você cobiçou, enganou e matou!- disse me o monstro.
-Por favor, eu imploro! Me deixe morrer! Por favor!
-Você me perguntou quem eu era, lembra? Eu sou você. Aquele quem você escondeu atrás de sorrisos. Não vê a minha mão manchada a sangue? Há há há! Eu sempre fui você!
-Não! NÃO!
Em meio as lágrimas e o pavor, o monstro me agarrou, puxando-me lentamente para as profundezas do lago. Não senti a dor do último fôlego. Já estava morto.
Tentei levantar, mas era em vão, as minhas forças se esvaíram sugadas pelo medo que me tomava. Fiquei de bruços, arrastando-me lentamente para perto do lago. “Esse lago será meu fim! Irei para as suas profundezas! Minha dor finalmente acabará!”. Em toda minha vida andei olhando para cima, no fim me arrasto na lama.
Não foi a morte que me esperava na água, era um mostro. Um reflexo negro de uma pessoa sorria para mim.
-Achas que tua dor vai terminar tão fácil? – disse-me o monstro por entre um sorriso macabro.
Não respondi, estava paralisado.
-RESPONDA! VERME!
- Que... Quem é você?- disse em pânico.
-Ha Ha ha! Quem sou eu? Você irá descobrir!- sua risada era grotesca, como gritos de horror.
-O que quer comigo? DEIXE-ME EM PAZ! Só quero morrer.
-CALADO! VERME! Você acha que vai se libertar da punição do seu pecado tão fácil? Não. Sua morte não vai ser rápida. Vou matar cada prazer e lembrança boa de sua vida. Só sobrará o terror.
-Você não pode tirar nada de mim, já perdi tudo! Só há dor!
-CALADO! Você ainda não sabe o que é dor!
A água se agitou formando círculos concêntricos, uma imagem foi ficando nítida. Era o casamento do meu melhor amigo Paulo com Lara. Eu estava como um dos padrinhos, vendo ela andar em direção onde estávamos. A música entoando. Como estava linda, só desejava que ela fosse minha. Não de Paulo, minha.
-É o dia mais feliz da minha vida. - Disse Paulo.
-Essa felicidade vai durar toda a sua vida!- Lhe disse sorrindo.
A visão parou no meu sorriso, e Lara vindo em nossa direção.
-VERME! Desejou a mulher do seu melhor amigo! O enganou no altar! Há há há! Um homem tão certo enganou a quem o amava! Parabéns! Há há há! – disse o monstro, entre risadas.
-Me deixe! Eu não quero ver nada.
Tentei me afastar do lago, não pude.Era como se uma força me prendesse.
-Você é meu agora. Não tente lutar. Ainda não viu a agonia e a dor.
A água se agitou novamente. Mostrava o aeroporto, no dia em que Paulo viajou para o Japão por três meses.
-Cuide dela por mim! Eu a amo muito – disse-me Paulo, sorrindo para a Lara que estava em seus braços.
-Guardarei com a minha própria vida, meu amigo. Não há lugar mais seguro que ao meu lado. Sorte no Japão.- disse apertando a sua mão.
“Três meses a sós com a Lara! Ela será minha, com certeza”. Lembro-me de ter pensado naquela hora.
A visão parou.
-Estou animado! Tanta maldade num homem! Há há há! Mentiras e mais mentiras! Há há há! Aproveitou da amizade de Paulo para conquistar sua amada esposa!- disse-me o monstro.
- Eu sei de minha culpa. Sei que não há perdão. Vá embora!
-NÃO! O farei lembrar-se de cada pecado! Da dor que causou!
A água se movimentou. Mostrava Lara e eu no carro, dois meses depois.
-Vai ser bom pra você ficar um pouco na casa do lago. Não se preocupe, de lá ligamos para o Paulo. Você já deixou um recado em casa. –disse para Lara.
-Não sei. Queria esperar por ele em casa.
-Não se preocupe. Só descanse.
A imagem no lago tremulou, mostrando o interior da casa. A lareira estava acesa. Lara estava deitada no sofá de olhos cerrados.
-Que tal um vinho? Vamos brindar essa linda vista e o calor da lareira.- disse trazendo a garrafa e dois copos.
-Não posso beber! Fico atordoada rápido!
-Vamos! Não fique assim!
-Tá bom.
A imagem foi acelerando. Uma, duas, três garrafas de vinho. Via nós sorrindo e se abraçando, num estupor alcoólico.
-Sempre amei você, Lara.
-Deixe de brincadeiras!-ela me disse sorrindo.
A tomei pelo braço pra que ficasse mais perto de mim.
-É verdade. Sempre te amei.
-Não, pare com isso. Eu amo o Paulo.
-Seja minha, só dessa vez! Ele não vai saber.
-Não. Está bom por hoje. Vou para o quarto.
A ira me tomou pela rejeição.
-Você será minha!
O que havia de humano em mim naquela hora sumiu. Rasguei suas roupas uma por uma. Ela gritava em desespero.Eu a pegava pelo pescoço.
-Você será minha! MINHA!
Seus unhas cravavam na minha pele, não sentia nada. Apenas segurava seu pescoço mais forte tentando fazê-la calar. E com o tempo não ouvi mais nada. Foi quando Paulo abriu a porta.
-Surpresa. Cheguei...
Seu rosto de pavor me atordou.
-Está bom. Não quero ver mais nada! Já chega, por favor! Chega!- disse ao monstro.
-CALADO! E veja a dor que você causou!
A imagem continuou. Paulo se jogou com fúria em cima de mim. Lara estava morta, semi-nua nos meus braços. Nós brigamos, empurrando um ao outro. Ele era mais forte, me jogou perto da lareira e foi em direção a Lara. Cego de raiva peguei o atiçador e o golpeei na cabeça.
O sangue corava o tapete, Paulo e Lara, um ao lado do outro. Mortos.
-JÁ CHEGA! POR FAVOR! Chega!- disse em lágrimas.
-Você cobiçou, enganou e matou!- disse me o monstro.
-Por favor, eu imploro! Me deixe morrer! Por favor!
-Você me perguntou quem eu era, lembra? Eu sou você. Aquele quem você escondeu atrás de sorrisos. Não vê a minha mão manchada a sangue? Há há há! Eu sempre fui você!
-Não! NÃO!
Em meio as lágrimas e o pavor, o monstro me agarrou, puxando-me lentamente para as profundezas do lago. Não senti a dor do último fôlego. Já estava morto.
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